História da Comercialização da Óptica
História da Comercialização da Óptica
A partir do início do segundo milênio podemos datar o desenvolvimento das chamadas “pedras de leitura”. Durante grande parte do período medieval, a cultura letrada ficou restrita à Igreja. Os mosteiros abrigavam os livros da Antiguidade clássica e dos pensadores medievais. Foi entre os monges, em especialmente os copistas, que surgiu o primeiro par de óculos na Europa. O primeiro par de lentes com aros de ferro unidos por rebites foi descoberto na Alemanha, durante o século XIII. Ainda nesse mesmo século em Florença, Pádua, Veneza e, muito provavelmente, na ilha italiana de Murano. Essas armações montadas com um par de lentes eram utilizadas para leitura, para debelara presbiopia, isto é, a “vista cansada”. Inúmeros religiosos procuravam óculos que melhorassem sua “visão de perto”, como mostrar os documentos do Mosteiro de Hisau, na Floresta Negra.
Este primeiro modelo era elaborado em forma de uma letra “V” invertida, com duas lentes presas por um rebite, apoiando-se no dorso do nariz sem as hastes laterais.
As lentes eram de cristal de quartzo ou pedras semipreciosas. As lentes lapidadas e polidas de berilo eram das mais procuradas, pela nitidez proporcionada e pelo brilho - aliás, foi do berilo que derivou a palavra “brilhos”. A documentação do período aponta também como pioneiros da produção de óculos o frade dominicano Alessandro della Spina e o médico Salvino deli Armati, que durante o século XIII confeccionavam óculos para várias cidades italianas. Estes pioneiros italianos utilizavam quartzo polido na fabricação das lentes, e foram os responsáveis pelos óculos do papa Leão X. A difusão do uso de óculos durante o século XIII entre os religiosos foi fruto do grande processo de traduções dos textos clássicos ocorrido durante os séculos XI e XII e do início do comércio entre Europa e Ásia. Um dos grandes centros de tradução no século XII foi a Sicília, ponto de encontro das culturas latina, bizantina e muçulmanas. No tempo de Rogério II, a Óptica de Ptolomeu foi traduzida por Eugênio, conhecido como “El Emir”. A historiografia europeia mostra que os primeiros comerciantes de óculos, os pioneiros, eram geralmente joalheiros. Esses viajantes, que acompanhavam as rotas comerciais e as grandes feiras de comércio da Europa, é que iniciaram a venda direta de óculos. O conhecimento técnico de ourivesaria e lapidação de joias foi fundamental para eles. Os óculos era encarados como um instrumento técnico e também como uma jóias, e seu custo era alto. Eram fabricados principalmente em Veneza, como afirma o historiador italiano Trasselli. Os grandes centros comerciais do final da Idade Média era as regiões de Champagne, Fladres e Lyron, na França, as cidades de Nuremberg, Ulm, Ausgburg e Frankfurt, na Alemanha, e as cidades italianas do Centro e Norte da península Italiana. As pedras polidas e óculos vindos da China era levados para a Europa pelos comerciantes de pedras preciosas e semipreciosas. Uma grande parte deste comércio estava nas mãos de comunidades judaicas, que utilizava um contrato mediante o qual várias famílias dividiam os lucros e os altos riscos que corriam ao percorrer longas distâncias com uma carga preciosa. De acordo com esse contrato, chamado Mudaraba, um investidos confiava bens ou capital ao comerciante, que depois, devolvia ao investidor o capital juntamente com a parte combinada dos lucros. Esse sistema, que envolvia várias cidades da Europa, do Norte da África e da Ásia e se baseava na confiança mútua, em valores partilhados e regras conhecidas, é que justifica o fato de o comércio óptico e de pedras preciosas ter sido controlado pela comunidade judaica durante os séculos, pois ela se espalhava por todas as regiões, o que garantia a continuidade do sistema comercial. Vindos da China, os óculos e lentes passavam por Alepo, na Síria, e seguiam em direção ao golfo Pérsico, nos portos de Siraf e Basra, depois para o mar Vermelho, em direção ao Cairo, para finalmente chegar na Itália. Tanto o estudo da óptica quanto o comércio de óculos se intensificaram a partir do Renascimento, período histórico que dá início à Idade Moderna.